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    Pesquisadores do câncer veêm a indústria fitness como o “Santo Graal”

    No ano passado, o Colégio Americano de Medicina esportiva (ACSM) reuniu especialistas de 17 organizações - incluindo a American Cancer Society (ACS) e o National Cancer Institute. 

    A mesa redonda teve dois objetivos:

    1. Analisar as mais recentes evidências científicas; 
    2. Oferecer recomendações sobre os benefícios do exercício para prevenção, tratamento, recuperação e melhora da sobrevida.

     

    Mais tarde, os integrantes da reunião divulgaram novas orientações recomendando que os profissionais tanto da saúde quanto do fitness forneçam rotinas de exercícios por meio de um novo tipo de “prescrição”. O objetivo é reduzir o risco de agravamento de certas categorias de câncer e atender melhor às necessidades, preferências e habilidades dos pacientes.

    Um dos especialistas foi Nicole Stout DPT, CLT-LANA, FAPTA, renomada pesquisadora do campo da saúde e integrante do corpo docente da Faculdade de Medicina do Instituto de Câncer da West Virginia University.

    Ela diz que o caso é sempre o mesmo, não importa onde ela vá ou com quem ela converse: Todo mundo tem uma história com o câncer.

    Isso não é nenhuma surpresa quando se percebe que as estimativas da ACSM, somente nos EUA, contabilizam que mais de 1,7 milhão de pessoas teriam recebido um diagnóstico de câncer por parte de uma pessoa próxima em 2019. A história de todos é diferente, seja um amigo, um colega de trabalho ou um membro da família.

    A pesquisadora Stout não é uma exceção. Quando ela estava no ensino médio, sua avó passou por tratamento contra a doença. Hoje, ela ainda pensa na perseverança e determinação dela ao seguir em frente.

    “Minha avó era agricultura no oeste da Pensilvânia - não tinha tempo para ficar doente”, lembra Stout.

    Os médicos orientavam a avó e os outros pacientes que não se exercitassem ou levantassem mais de dez quilos de uma vez pelo resto de suas vidas. Stout diz que ainda estamos vivendo os efeitos disso, embora estudo após estudo demonstre que o exercício pode beneficiar pessoas que estão em tratamento e que já passaram pela doença.

    O verdadeiro desafio é que os médicos desejam recomendar exercícios, mas não estão formados para o recomendar de verdade. Stout e os demais especialistas querem facilitar o processo, reduzindo a burocracia.

    Ela recomenda que os profissionais de saúde encaminhem os pacientes a um treinador específico em uma academia confiável, em vez de apenas recomendar por conta própria.

    As evidências sugerem que esse tipo de encaminhamento melhora a probabilidade de o paciente seguir com a prescrição do exercício.




    Prescrever exercícios em um mundo pós-COVID

    A pandemia do COVID-19 interrompeu a vida normal de todos, e as rotinas diárias de prática de atividade física não foram exceção.

    Os níveis de atividade física nos EUA diminuíram 48% entre 1° de março e 8 de abril. Essa queda é especialmente alarmante quando ao considerarmos que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a falta de atividade física é a principal causa de aproximadamente 21-25% dos casos de câncer de mama e cólon. 

    “Uma das maiores preocupações que estamos enfrentando nessa pandemia é que os indivíduos estão renunciando aos cuidados de que precisam por medo de entrar em uma clínica ou hospital”, diz Stout. “Mas, mais ainda dizer, às pessoas para ficarem em casa e não frequentarem lugares lotados significa que estão deixando de lado coisas como ir ao shopping e caminhar, ou ir à academia ou à treinos”.

    Entramos em contato com a Dra. Stout para saber como o COVID-19 afetará a capacidade das academias na hora de ajudar os clientes com câncer.

    “A maneira número um de ajudar as pessoas imunocomprometidas é incentivar a limpeza meticulosa dos equipamentos e disponibilizar a eles os meios para limpar as mãos, os acessórios que usam etc.”, diz ela.

    Os frequentadores de academia que tem a saúde fragilizada nem sempre parecem doentes, mas o estado do seu sangue os coloca em maior risco de adoecer. Stout tem cinco sugestões para ajudar a garantir que os clientes das academias não apenas estejam seguros, mas também se sintam seguros para voltar à prática:

    1. Seja muito transparente com as medidas que você está tomando para manter o ambiente limpo;
    2. Implemente procedimentos para desinfetar rotineiramente o equipamento;
    3. Mantenha o número de pessoas no espaço em uma quantidade que não favoreça aglomeração;
    4. Deixe álcool gel amplamente disponível para os clientes para que as pessoas possam passar nas mãos ou limpar os itens que usarem;
    5. Se tiver a oportunidade, inicie ou amplie atividades e programas ao ar livre, até mesmo colaborando com um grupo ou organização do bairro.

    Ela diz que atividades ao ar livre, como grupos de caminhadas, ioga e tai chi, podem ser modalidades novas e interessantes para os pacientes com câncer que desejam estar mais ativos.

    Está na hora de começarmos a analisar como podemos encontrar novas oportunidades durante essa pandemia, seja aumentando as aulas online ou comprando um espaço de publicidade na televisão ou internet, executando de 30 a 60 segundos exercícios de baixa intensidade.

    “Acho que agora temos uma população que pode ser mais receptiva a alguns desses diferentes meios para programas de treinamento”, diz Stout.

     



    Onde o fitness pode ajudar

    Existem algumas maneiras pelas quais a indústria do fitness pode ajudar. Uma maneira é construir relacionamentos com profissionais da saúde que façam parte da comunidade. Informe-os sobre a programação em favor dos que lutam contra o câncer na sua academia e demonstre que eles podem confiar em você para ajudá-los.

    Stout diz que se pudéssemos envolver mais academias e instrutores em programas sólidos contra o câncer, seria o “Santo Graal”.

    “Não precisa ser tudo ou nada”, acrescenta ela. “Trata-se de criar um caminho”.

    A sua academia inteira não precisa ser certificada. Você pode solicitar que alguns treinadores interessados na proposta recebam um nível básico de conhecimento sobre os sintomas do câncer e trabalhem com os pacientes afetados. Depois, tenha um colaborador que seja o seu certificado oficial de cuidado com a doença.

    Stout diz que há duas coisas que os operadores de academias podem fazer agora.

    Primeiro, se você já tem um programa contra o câncer na sua academia - certificado ou não - adicione-o ao registro pesquisável Moving Through Cancer da ACSM. Esse registro ajuda os profissionais de saúde e pacientes a encontrar pessoas treinadas em suas comunidades. Isso vai ajudar a fortalecer o networking entre os setores do fitness e de saúde.

    Em seguida, se você ainda não possui um instrutor certificado, consulte as fontes no site Moving Through Cancer. Eles têm informações sobre as mais recentes pesquisas e recursos para profissionais de fitness e profissionais de saúde - incluindo um formulário Moving Through Cancer Rx.

    Também haverá programas modelo que as academias podem usar com base no que as outras estão fazendo. Portanto, adicione a sua academia ao registro.

    Stout diz que é sobre a construção de um sistema de atendimento ao paciente que os ajude durante todo o tratamento, e que o exercício não deve ser pensado em última prioridade.

    Para que a iniciativa funcione, precisamos atender a duas condições:

    1. Os profissionais da saúde precisam se comprometer com a missão de prescrever mais exercícios;
    2. Os profissionais de condicionamento físico precisam aumentar o seu conhecimento de como o câncer afeta o corpo de um paciente a fim de personalizar os exercícios de acordo com a necessidade individual de cada cliente.

    O envolvimento de todo o setor é crucial. “Se os pacientes não tiverem um lugar para receber a recomendação de exercícios em sua comunidade, isso não vai funcionar”, diz Stout.




    Academias liderando o caminho

    A programação contra o câncer em academias não é um conceito novo.

    Depois que a ex-membro do board da IHRSA e co-proprietária dos West Coast Athletic Clubs da Costa Oeste, Julie Main recebeu seu diagnóstico de câncer nos anos 90, e iniciou o Programa de Bem-Estar do Câncer. Esta organização sem fins lucrativos atende milhares de pacientes com câncer e inspirou programas semelhantes nos EUA.

    Depois, há o programa Back to Life de seis semanas para pacientes com câncer e sobreviventes da doença, iniciado por Radka Dopitova Willson. Radka - ela própria já enfrentou a doença - concentrou seu programa em três objetivo simples: nutrição, exercícios e mente-corpo.

    Para que a indústria seja o “Santo Graal” que Stout acredita que é, precisamos ser ativos como um time para incorporar e promover mais programas de exercícios contra o câncer.